Despido de todo e qualquer
crachá que utilizei, ou ainda utilizo, fruto de minha atuação no campo da
gestão cultural, eis que resta um cidadão instigado! Um ativista que acredita
(de verdade) na cultura e nas artes, enquanto transformadoras de realidades e
futuros, capazes de alicerçar a construção da nova sociedade brasileira. Daí
nossa insistência em discuti-las enquanto bens públicos!
Imbuído da missão de
acompanhar os 20 espetáculos selecionados no edital de chamada publica lançado
pela Fundação de Cultura de Macapá-FUMCULT (claro que consegui ir a todos), nesta
quarta feira, 30 de março, estive no CEU DAS ARTES para assistir “Seguidores”,
espetáculo proposto pela Companhia de Artes Tucujú, a quem vou me ater nos
próximos parágrafos.
Em conceitos gerais, o
formato com que estes espetáculos (Paixões de Cristo) tem se apresentado com o
passar dos anos, me assombram pelos últimos 06 (seis) anos, pois apesar da
compreensão e aceitação da tradicionalidade, acredito que há espaço para
experimentações mil, releituras fundamentadas em dramaturgias pessoais dos atores/
atrizes inseridos na concepção e montagem dos mesmos. Assim, condicionar tais
encenações à preceitos estéticos religiosos, é privar que espectadores das mais
distintas crenças e credos o consumam e, neste sentido, raras são as vezes em
que se consegue fugir ao trivial.
Munido de uma dramaturgia que permite ao
espectador experimentar outras visualizações e/ ou interpretações acerca da já
conhecida história da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo, a companhia reforça minha crença de que OUTRAS REALIDADES ainda são
possíveis. Outras REALIDADES POSSÍVEIS, diante da cumplicidade de quem as
escrevem. Outras REALIDADES POSSÍVEIS, diante do ato de despir-se de vaidades
pessoais, de preconceitos e de falsas idolatrias.
O experimentalismo contido
em seus figurinos e na proposta cenográfica, não são frutos exclusivos de
cabeças relativamente jovens, porém, creio que tal condição ajuda bastante
nesta predisposição ao novo, ao desconhecido, independente da ação ou da reação
do publico, afinal de contas, o que importa é sentir algo, e isso a companhia
consegue! Se por um lado a verossimilhança da história contada está passível de
questionamentos e interrogações, a cumplicidade visível de seus atores está
passível apenas de estreitamento. E assim, estaremos diante de um belo exemplo
de TEATRO DE GRUPO.
Se elementos importantes da
carpintaria teatral não puderam receber a devida atenção, como iluminação,
sonoplastia/ trilha sonora, a direção de arte, dentro da proposta cênica e de
suas limitações, cumpre importante papel na estética final do trabalho, com
detalhes minuciosos que favorecem uma compreensão global do espetáculo.
Diante de sensações
parecidas com esta que hoje vivenciei, costumeiramente ou mecanicamente desejo
sucesso e vida longa, aos espetáculos e seus grupos, no entanto, e neste caso
em especifico, desejo que “SEGUIDORES” sejam seguidos, pois muito tem a
contribuir com a cena local, se não pelo apuro técnico e estético de suas
produções, fator somente alcançado na base de estudos e experimentações, mas
pela sinceridade, humildade e verdade com a qual a companhia se veste diante de
sua arte e de seu publico!
Tal experiência me permitiu
adentrar em um processo de decomposição voluntária, afim de recompor-me de
forma mais orgânica, dinâmica e reciclável, dia após dia!
Pois assim foi!...E que
assim seja! Por todos os séculos, dos séculos, dos séculos, AMÉM!
CLAUDIO SIlVA
ator, diretor teatral e produtor cultural
CLAUDIO SIlVA
ator, diretor teatral e produtor cultural
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