01 abril, 2016

SEGUIDORES. MERECEM SER SEGUIDOS?!?



Despido de todo e qualquer crachá que utilizei, ou ainda utilizo, fruto de minha atuação no campo da gestão cultural, eis que resta um cidadão instigado! Um ativista que acredita (de verdade) na cultura e nas artes, enquanto transformadoras de realidades e futuros, capazes de alicerçar a construção da nova sociedade brasileira. Daí nossa insistência em discuti-las enquanto bens públicos!
Imbuído da missão de acompanhar os 20 espetáculos selecionados no edital de chamada publica lançado pela Fundação de Cultura de Macapá-FUMCULT (claro que consegui ir a todos), nesta quarta feira, 30 de março, estive no CEU DAS ARTES para assistir “Seguidores”, espetáculo proposto pela Companhia de Artes Tucujú, a quem vou me ater nos próximos parágrafos.
Em conceitos gerais, o formato com que estes espetáculos (Paixões de Cristo) tem se apresentado com o passar dos anos, me assombram pelos últimos 06 (seis) anos, pois apesar da compreensão e aceitação da tradicionalidade, acredito que há espaço para experimentações mil, releituras fundamentadas em dramaturgias pessoais dos atores/ atrizes inseridos na concepção e montagem dos mesmos. Assim, condicionar tais encenações à preceitos estéticos religiosos, é privar que espectadores das mais distintas crenças e credos o consumam e, neste sentido, raras são as vezes em que se consegue fugir ao trivial.
 Munido de uma dramaturgia que permite ao espectador experimentar outras visualizações e/ ou interpretações acerca da já conhecida história da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, a companhia reforça minha crença de que OUTRAS REALIDADES ainda são possíveis. Outras REALIDADES POSSÍVEIS, diante da cumplicidade de quem as escrevem. Outras REALIDADES POSSÍVEIS, diante do ato de despir-se de vaidades pessoais, de preconceitos e de falsas idolatrias.
O experimentalismo contido em seus figurinos e na proposta cenográfica, não são frutos exclusivos de cabeças relativamente jovens, porém, creio que tal condição ajuda bastante nesta predisposição ao novo, ao desconhecido, independente da ação ou da reação do publico, afinal de contas, o que importa é sentir algo, e isso a companhia consegue! Se por um lado a verossimilhança da história contada está passível de questionamentos e interrogações, a cumplicidade visível de seus atores está passível apenas de estreitamento. E assim, estaremos diante de um belo exemplo de TEATRO DE GRUPO.
Se elementos importantes da carpintaria teatral não puderam receber a devida atenção, como iluminação, sonoplastia/ trilha sonora, a direção de arte, dentro da proposta cênica e de suas limitações, cumpre importante papel na estética final do trabalho, com detalhes minuciosos que favorecem uma compreensão global do espetáculo.
Diante de sensações parecidas com esta que hoje vivenciei, costumeiramente ou mecanicamente desejo sucesso e vida longa, aos espetáculos e seus grupos, no entanto, e neste caso em especifico, desejo que “SEGUIDORES” sejam seguidos, pois muito tem a contribuir com a cena local, se não pelo apuro técnico e estético de suas produções, fator somente alcançado na base de estudos e experimentações, mas pela sinceridade, humildade e verdade com a qual a companhia se veste diante de sua arte e de seu publico!
Tal experiência me permitiu adentrar em um processo de decomposição voluntária, afim de recompor-me de forma mais orgânica, dinâmica e reciclável, dia após dia!

Pois assim foi!...E que assim seja! Por todos os séculos, dos séculos, dos séculos, AMÉM!

                                                                                CLAUDIO SIlVA
                                                               ator, diretor teatral e produtor cultural

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